segunda-feira, maio 16, 2011

Lição de um garoto de 9 anos

Mais uma vez eu posto aqui algo que foge completamente do meu blog.
De alguma forma, eu sinto que assim como a carta da Monja, muitos não irão nem passar os olhos nesse texto, mas por algum motivo, eu tive que postar.

O texto é inicialmente uma carta, de um imigrante vietnamita, que é policial na provincia de Fukushima. a carta, endereçada ao irmão, por algum motivo foi extraviado e parou num jornal em Shangai, aonde foi traduzido e publicado.

Eis a carta:


"Querido irmão,                                                        


Como estão você e sua família? Estes últimos dias têm sido um verdadeiro caos. Quando fecho meus olhos, vejo cadáveres e quando os abro, também vejo cadáveres.                         

Cada um de nós está trabalhando umas 20 horas por dia e mesmo assim, gostaria que houvesse 48 horas no dia para poder continuar a ajudar e resgatar as pessoas.

Estamos sem água e eletricidade e as porções de comida estão quase a zero. Mal conseguimos mudar os refugiados e logo há ordens para mudá-los para outros lugares.
Atualmente estou em Fukushima – a uns 25 quilômetros da usina nuclear. Tenho tanto a contar que se fosse contar tudo, essa carta se tornaria um verdadeiro romance sobre relações humanas e comportamentos durante tempos de crise.
As pessoas aqui permanecem calmas – seu senso de dignidade e seu comportamento são muito bons – assim, as coisas não são tão ruins como poderiam. Entretanto, mais uma semana, não posso garantir que as coisas não cheguem a um ponto onde não poderemos dar proteção e manter a ordem de forma apropriada.
Afinal de contas, eles são humanos e quando a fome e a sede se sobrepõem à dignidade, eles farão o que tiver que ser feito para conseguir comida e água. O governo está tentando fornecer suprimentos pelo ar enviando comida e medicamentos, mas é como jogar um pouco de sal no oceano.
Irmão querido, houve um incidente realmente tocante que envolveu um garotinho japonês que ensinou a um adulto, como eu, uma lição de como se comportar como um verdadeiro ser humano.

Ontem à noite fui enviado para uma escola infantil para ajudar uma organização de caridade a distribuir comida aos refugiados. Era uma fila muito longa e notei, no final dela, um garotinho de uns 9 anos que usava uma camiseta e um short.
Estava ficando muito frio e fiquei preocupado se, ao chegar sua vez, poderia não haver mais comida. Fui falar com ele. Ele contou que estava na escola quando o terremoto ocorreu. Seu pai, que trabalhava perto, estava se dirigindo para a escola para apanhá-lo e ele, que estava no terraço do terceiro andar, viu quando a onda tsunami levou o carro com seu pai dentro.           

Perguntei sobre sua mãe. Ele disse que sua casa era bem perto da praia e que sua mãe e sua irmãzinha provavelmente não sobreviveram. Notei que ele virou a cabeça para limpar uma lágrima quando perguntei sobre sua família.
O garoto estava tremendo. Tirei minha jaqueta de policial e coloquei sobre ele. Foi ai que a minha bolsa de bentô (comida) caiu. Peguei-a e dei-a para ele dizendo: “Quando chegar a sua vez a comida pode ter acabado. Assim, aqui está a minha porção. Eu já comi. Por que você não come”?
Ele pegou a minha comida e  fez uma reverência. Pensei que ele iria comer imediatamente, mas ele não o fez. Pegou a comida, foi até o início da fila e colocou-a onde todas as outras comidas estavam esperando para serem distribuídas.
Fiquei chocado. Perguntei-lhe por que ele não havia comido ao invés de colocar a comida na pilha de comida para distribuição. Ele respondeu: “Porque vejo pessoas com mais fome que eu. Se eu colocar a comida lá, eles irão distribuí-la mais igualmente”.
Quando ouvi aquilo, me virei para que as pessoas não me vissem chorar.
Uma sociedade que pode produzir uma pessoa de 9 anos que compreende o conceito de sacrifício para o bem maior deve ser uma grande sociedade, um grande povo.
Bem, envie minhas saudações à sua família. Tenho que ir, meu plantão já começou."

7 comentários:

  1. Sobre o texto, uma palavra: impressionante.

    Adorei o blog, é a primeira vez que visito, mas achei interessante e vou voltar mais vezes.

    ResponderExcluir
  2. É, é incrível como, mesmo em uma situação crítica, eles conseguem manter a calma, o respeito e a dignidade. Ele não se entregam ao desespero, não fazem as coisas se tornarem um verdadeiro caos. (*Quem me dera o Brasil fosse assim. Se um caminhão sofre um acidente, em 10min a carga já foi toda roubada '-' )
    Eu chorei ao ler a carta. Eu chorei também e fiquei mal um dia inteiro quando, depois do terremoto e do tsunami, postaram uma foto do Sho Sakurai no Zero News e ele estava com uma cara muito triste. Dava pra ver em uma simples foto daquela o quanto o Japão está sofrendo, o quanto eles estavam preocupados com a população, o país inteiro. E me deu um aperto no coração ao ver aquela foto do Sho com uma cara de choro, tristeza, preocupação.

    ResponderExcluir
  3. Karen. Obrigada pela visita, e sim volte sempre.
    O texto me impressionou muito, e por isso eu tive a súbita e inexplicável vontade de postá-lo.
    Infelizmente, como imaginava, muitos nem olharam pra ele...

    Harumi, acho que só não chorei com a imagem do Sho abalado, por que faltavem-me lágrimas.O terremoto, o Tsunami... tudo foi um abalo de uma forma sem justificativa pra mim. O desespero de não conseguir saber de quem eu amo, da minha familia e amigos tbm...Eu me ocupei na época em ficar relatando sobre os artistas, pra tentar ocupar minha cabeça, e "tentar" parar de derrubar lágrimas... mas em vão...

    ResponderExcluir
  4. É lindo, impressionante mesmo! E o blog também é muito legal. Parabéns!

    ResponderExcluir
  5. Nossa, fiquei impressionada com a atitude deste menino. Impressionante msm...Uma atitude de respeito e lealdade.

    ResponderExcluir
  6. O Japão sempre criou mentes fortes.

    ResponderExcluir
  7. sei que estou atrasada³ mas estou me atualizando agora no seu blog, Yumi! =^.^=
    nee, fiquei impressionada...só tem nove anos, e já pensa dessa forma! mas que mais me entristece, é pensar no futuro desse menininho (viver sem sua familia deve ser simplesmente horrível) fora que, muitas crianças devem passar pelas mesmas situações da dele ne... >.<

    Por: Lêe

    ResponderExcluir